Pages

13 de mar. de 2015

Entre um moinho e uma bergamota:

Foto: Otaviano Caldas
 
    "Tudo passa. Vai dar certo. Isso é só uma fase" – nunca foram frases muito apreciadas por mim, até porque eu não digo essas coisas, e também, não gosto de ouvi-las. Sou mais o tipo de pessoa que pensa antes de falar, que às vezes nem fala nada, que erra tentando acertar, e mesmo assim, que se importa. 
    É simples: abra seus belos olhos castanhos e veja o mundo como ele é. O que a vida te oferece, agora. Pois, o mundo dá tantas voltas e a cada instante não somos a mesma pessoa. É aquela história do rio, que ninguém presta atenção no ensino médio – “Ninguém entra no mesmo rio uma segunda vez, pois quando isto acontece já não se é mais o mesmo. Assim como as águas que já serão outras.” Sábio, não é o que age de maneira egoísta, mas o que entende que tudo isso é uma questão de perspectiva e de vontade. O mundo girar não depende da nossa atitude, e mesmo assim, pode ser nosso aliado - para pensar, se afastar, se encontrar ou procurar. As pessoas mudam porque elas necessitam, aprendem e se entregam – assim, crescem. 
    Então, quando tudo parece bem/correto, lá vem o mundo e bagunça tudo outra vez. Exatamente nessas horas que eu recebo: “anda sumida”. Enquanto, sempre estive aqui, na minha vida incrédula e social. Talvez, distante, mas estou aqui – ainda escuto as mesmas músicas, faço as mesmas comidas, e até, ligo para as mesmas pessoas. Apesar de estar em outro lugar, e de ter aprendido com isso, sou a mesma pessoa só que mudada. Vejo que hoje, minhas perspectivas não são sólidas como antes, e minhas expectativas estão se esvaindo aos poucos. Ir embora não é sinônimo de abandonar. Afinal, quem quer acha uma maneira, uma hora, uma palavra que seja. Ainda mais agora – tudo virtual – as pessoas não se encontram como antes. Então, não diga que o pior é ficar, pois, o pior é não enxergar. Temer as mudanças, que dependem de cada um. Quem procura, acha. E são nesses clichês e metáforas bobas que falamos a realidade. Por isso, quem busca algo, vai encontrar.
    Chega de altos e baixos. Chega de convenções. A vida é muito mais que isso. É mais que o vazio ou o cheio. A tampa da panela. O mundo é mais que um quebra cabeça com todas as peças. Ele também é feito de metades. Dos corajosos, apavorados ou indecisos. Metade dos que partiram e metade dos que ficaram. Sem esquecer, os que não mudaram em nada. A vida é feita e desconstruída a partir das utopias que nós mesmos evidenciamos. É aquilo que pensamos, fazemos e, sobretudo, o que sentimos. 
    Deixe o moinho rodar. A bola rolar. A música tocar. O guri correr. O mundo girar. Como se não houvesse mais nada, e tudo fosse o que é. Assim, como aquela bergamota, que pode ter o cheio forte, a cor robusta e a sua peculiar acidez, mas no final, o gosto é o que vale a pena.